Como os adolescentes privados de liberdade percebem a sua situação? Em sua tese de mestrado, Andréa Padovani, doutoranda em Psicologia Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), dá voz aos adolescentes autores de atos infracionais que cumprem medida em meio fechado.
Surpreendentemente, os meninos entrevistados enfatizaram os aspectos positivos da instituição. Essa aceitação pode estar relacionada ao tempo de vivência nestes espaços. “O adolescente talvez tenha se habituado diante das imagens que se referem ao sistema prisional, de forma que estas imagens passaram a não afetar mais seus sentimentos em relação à internação, e a não serem vistas como algo que poderia ser diferente”, escreve a psicóloga.
Padovani ressalta, no início da dissertação, que a pesquisa foi realizada em apenas uma instituição de internação, “o que limita sua generalização, tendo em vista que a realidade desta unidade, vivenciada por estes sujeitos, é diferente em relação a outras instituições”.
Nessa instituição específica, os adolescentes sentem que têm assegurados direitos que em meio aberto não teriam, como acesso à psicóloga, médico, escola, passeios e oficinas. Por isso, em entrevista ao VIA Blog, Padovani afirmou que a liberdade, para esses meninos, é recebida muitas vezes com tristeza, uma vez que eles voltarão para o convívio da sociedade sem todo o aporte necessário e sem uma concreta inserção no mercado de trabalho. “O adolescente é “devolvido” à sua vida anterior e encontra a mesma realidade de antes, que o capturou e envolveu na vida infracional”, afirma a psicóloga.