Para mudar estereótipos sobre o envelhecimento: a maior parte dos idosos não depende de cuidados

10/05/2016
Equipe Prattein

A maior parte da população idosa não é dependente de cuidados para sobreviver

“A proporção de pessoas idosas que depende de cuidados de terceiros para o apoio às suas atividades da vida diária e para sua sobrevivência é pequena. Na verdade, a maioria das pessoas idosas contribui de diversas formas tanto para suas famílias quanto para as comunidades em que residem. Pesquisa realizada na Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte estimou que a contribuição dos idosos para a economia (concretizada em pagamento de impostos, gastos de consumo e outras atividades econômicas importantes) somava, no ano de 2011, cerca de 40 bilhões de libras esterlinas a mais do que o total das despesas desses países com pensões, bem-estar e atenção à saúde dos idosos. A mesma pesquisa estimou que esse valor deverá subir para 77 bilhões em 2030. Embora essa tendência não seja tão evidente nos países de baixa e média renda, alguns indicadores sugerem que a contribuição dos idosos nesses países também é significativa. No Quênia, por exemplo, a idade média dos pequenos agricultores é de 60 anos, sendo este um subgrupo fundamental para a garantia da segurança alimentar do país. Portanto, as políticas públicas para o envelhecimento devem evitar visões estereotipadas que estimulem a discriminação contra indivíduos e grupos simplesmente com base na idade.”

(Fonte: Organização Mundial da Saúde / Tradução livre: Prattein)

Acesse aqui o texto original da OMS

Comentário

As políticas públicas para o envelhecimento devem ser planejadas com base em um reconhecimento cuidadoso das características e dos contextos de vida dos diferentes segmentos da população idosa. Em cada localidade, é preciso identificar como a população idosa está distribuída do ponto de vista da sua situação de dependência ou autonomia para condução da própria vida, ou seja, reconhecer o subgrupo da população idosa cujas condições de vulnerabilidade, saúde e renda os torna dependentes de cuidados e de políticas protetivas especiais, o subgrupo que apresenta condições de vida e independência relativamente preservadas, mas que reduziu ou descontinuou sua atividade produtiva, e o subgrupo que se mantém ativo no mundo do trabalho e apresenta não apenas independência para sobreviver, mas que também contribui para a sustentação de familiares e para o funcionamento das economias locais.

Dados do IBGE apontam que a proporção de idosos entre 60 e 74 anos que declaram um estado de saúde ruim ou muito ruim no Brasil é inferior a 15%. Entre 75 e 84 anos esse percentual se mantém entre 15% e 20%, chegando em torno de 25% apenas na faixa etária de 85 anos de idade ou mais. Aqui estão incluídos os idosos do primeiro subgrupo acima citado.

Outros dados do IBGE ajudam a dimensionar o terceiro subgrupo citado: em 2013, os brasileiros com 60 anos ou mais que trabalhavam somavam 27,4% da população idosa. Entre os homens, esse percentual alcançava 40,3%. A carga horária média de trabalho desses idosos era de 34,7 horas semanais. Naquele ano, 76,1% das pessoas com 60 anos ou mais eram aposentados ou pensionistas (muitos destes integrantes do segundo subgrupo citado), sendo que 15,6% deles eram aposentados mas continuavam a trabalhar (integrando o terceiro subgrupo). Para aqueles que não eram aposentados ou pensionistas, a taxa de ocupação no mundo do trabalho alcançava 45,1%. Do total de idosos, 48,4% tinham rendimento de todas as fontes superior a um salário mínimo e 64,4% do total figuravam como pessoa responsável pelo domicílio, desempenhando papel central na manutenção da família.

Esses indicadores referem-se ao conjunto da população idosa do país, e certamente apresentam variações regionais que refletem as desigualdades socioeconômicas do país. Por isso, é muito importante que os Conselhos Estaduais e Municipais dos Direitos da Pessoa Idosa, com o apoio dos órgãos do Poder Executivo de cada ente federativo, realizem diagnósticos regionais e locais para mapeamento da situação da população idosa, a partir dos quais seja possível propor políticas diferenciadas e orçamentos públicos coerentes para a implantação ou aprimoramento de ações voltadas a cada subgrupo: idosos dependentes de cuidados médicos e socioassistenciais; idosos que precisam manter sua autonomia relativa e prevenir ocorrências que afetem negativamente sua saúde; idosos que querem ou necessitam manter ou fortalecer sua vida produtiva e suas condições de trabalho.

No Brasil, a necessidade de melhoria quantitativa e qualitativa dos serviços de atenção à saúde de idosos dependentes de cuidados é muito clara. Porém, o terceiro grupo citado – idosos ativos, que querem permanecer no mundo do trabalho, aprimorar suas capacidades profissionais, manter ou ampliar seus empreendimentos individuais ou coletivos – também conta com poucos programas de apoio.

Para ajudar os Conselhos Municipais dos Direitos do Idoso a exercitar de forma consistente a função propositiva e deliberativa que lhes cabe, a Prattein desenvolveu o guia Conhecer para Transformar, que apresenta conceitos, passos e instrumentos para a realização de processos permanentes de diagnóstico e planejamento de políticas municipais para os diferentes segmentos da população idosa.

Acesse aqui o guia Conhecer para Transformar