Moradias para pessoas idosas: novas perspectivas

11/12/2017
Raquel Freitas e Fabio Ribas

Há hoje no Brasil 29,3 milhões de idosos, de acordo com a PNAD – Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios. Esse número representa 14% da população e a estimativa é de que em 2030 o contingente populacional da faixa etária acima dos 60 anos chegará a 18%.

Dentre os muitos desafios que essa realidade traz, a questão da moradia é um deles. Países como Dinamarca, Estados Unidos e Canadá têm implementado projetos de vilas comunitárias para idosos. Esse modelo de habitação compartilhada (cohousing) se apresenta como uma alternativa às Instituições de Longa Permanência para as pessoas idosas que têm autonomia e independência e buscam espaços mais adequados e seguros para sua etapa de vida. Além da arquitetura amigável, com áreas planas e iluminadas, pisos táteis, faixas de pedestre na mesma altura das calçadas, rampas em lugar de escadas e portas mais largas, esses espaços são organizados de modo a favorecer a convivência entre os moradores.

Algumas iniciativas públicas e privadas também estão acontecendo no Brasil. Um exemplo é o Programa Condomínio Cidade Madura, na Paraíba. Condomínios com 40 casas de 54 m² cada foram inaugurados em 2015 pelo governo estadual nas cidades de João Pessoa, Campina Grande e Cajazeiras, e abrigam idosos que não têm como comprar suas próprias casas, mas que conseguem viver sozinhos. Possuem serviço de vigilância, praça, pista de caminhada, redário, sala de atendimento médico, centro de convivência e horta comunitária. Os espaços são urbanizados seguindo as normas de acessibilidade universal. O investimento em cada condomínio é de aproximadamente R$4,47 milhões, com recursos do Tesouro Estadual e do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza (FUNCEP).

No Condomínio Cidade Madura a escolha dos moradores se dá após estudo social realizado por assistentes sociais e psicólogos. Os moradores não podem modificar, emprestar, locar ou ceder os imóveis, e pagarão apenas as despesas referentes às áreas comuns. As casas pertencem ao Governo da Paraíba, não existindo direitos reais e sucessórios sobre elas. A concessão só será rescindida se o idoso manifestar interesse, perder sua autonomia ou falecer. O imóvel, então, será cedido para outra pessoa.

Em Campinas (SP) uma associação civil sem fins lucrativos tenciona criar um lar coletivo para idosos residirem juntos numa comunidade sênior solidária, de apoio mútuo. Trata-se da Vila ConViver, espaço que abrigará principalmente professores aposentados da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cerca de 70 pessoas participam desse projeto, que terá um custo de 400 mil por unidade e pagamento mensal de R$ 3,5 mil. O aspecto mais importante dessa iniciativa segundo um de seus idealizadores, o professor da Unicamp Sergio Mühlen, será o convívio social.

A proposta da Vila ConViver foi apresentada no 1° Fórum de Moradia para a Longevidade, realizado pelo jornal O Estado de São Paulo, em parceria com o sindicato imobiliário Secovi e com a feira Agin Free Fair. Um dos temas abordados nesse Fórum foi o conceito de cidade amiga das pessoas idosas, proposto há alguns anos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e que, mais recentemente, foi desdobrado na ideia de cidade amiga para todas as idades. A jornalista Mariana Barros, participante do Fórum, lembrou que “uma cidade boa para os idosos é acessível, caminhável e convidativa para andar e permanecer no espaço público, o que é positivo para todas as faixas etárias, não apenas as mais altas”. Pode-se acrescentar que uma cidade boa para todas as idades deveria, também, favorecer as relações intergeracionais.

Em cidades de médio e grande porte, muitas pessoas idosas residem em prédios e condomínios que nem sempre estão adaptados e preparados para propiciar a elas condições adequadas de moradia. Percebendo a relevância desse tema, o Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (OLHE), uma organização não governamental situada São Paulo, iniciou em 2009 um projeto denominado Condomínio Amigo do Idoso. Esse projeto buscava identificar e fortalecer redes de apoio entre moradores de grandes condomínios da cidade de São Paulo, que são habitados, em boa medida, por pessoas idosas. As ações incluíam a capacitação de funcionários (zeladores, porteiros, etc.) e de moradores não idosos, e orientação de profissionais da rede de serviços e comércio existente nas proximidades dos condomínios, em questões relativas ao processo de envelhecimento. Com base nessa experiência, o OLHE desenvolveu uma metodologia prática para o fortalecimento de vínculos e promoção da convivência intergeracional solidária e harmoniosa, assentada no local de moradia das pessoas e no seu entorno.

A reflexão sobre moradia, meio urbano e condição de vida das pessoas idosas é muito importante e deve estar conectada com a tarefa mais ampla de humanização da vida nas cidades. O modo ainda dominante de gestão e planejamento urbanístico não ajuda que as cidades se transformem em espaços seguros tanto para pessoas idosas quanto para crianças, adolescentes e adultos. Nesse sentido, o objetivo maior a ser buscado é fazer com que as cidades se tornem não apenas amigas das pessoas idosas, mas amigas de todas as idades.

Acesse aqui mais informações sobre o Programa Condomínio Cidade Madura

Acesse aqui matéria sobre o Vila ConViver

Acesse aqui relato sobre o projeto Condomínio Amigo do Idoso

Acesse aqui matéria sobre o conceito de cidade amiga do idoso