Evasão escolar: causas e caminhos para enfrentamento do problema

A redução da evasão escolar é um dos principais desafios a serem enfrentados para a melhoria do sistema público de educação básica, em especial o ensino médio.

Pesquisa realizada em 2022 pelo IPEC para o UNICEF apontou que 11% das crianças e adolescentes entre 11 e 19 anos estavam fora da escola no Brasil, o que representava cerca de 2 milhões de pessoas nessa faixa etária. A pesquisa também revelou grande variação nos percentuais de evasão escolar em função da condição socioeconômica das crianças e adolescentes: 17% nas classes D e E, contra 4% nas classes A e B.

Os principais motivos apontados pelos estudantes pesquisados pelo IPEC para o abandono da escola foram os seguintes (por ordem de frequência):
– Ter que trabalhar fora de casa
– Não conseguir acompanhar atividades passadas por professores
– Ter que cuidar de familiares na sua casa
– Sentir a escola como desinteressante
– Preferência por aulas e atividades remotas
– Não gostar de colegas ou professores
– Sentir que a escola é pouco útil
– Falta de transporte para ir à escola
– Ter mudado de casa ou ter que viajar com frequência
– Não se sentir acolhido na escola
– Violência no bairro ou região em que mora
– Falta de infraestrutura na escola
– Ter ficado grávida ou ter tido filho ou filha

Nessa mesma direção, estudo realizado pela Firjan/SESI em parceria com o PNUD, publicado em abril de 2023, revelou que somente 6 em cada 10 alunos concluem o ensino médio no Brasil. Diferentes causas geradoras da evasão escolar são apontadas nesse estudo:
– Necessidade de renda imediata
– Falta de conhecimento dos ganhos futuros associados à conclusão dos estudos
– Envolvimento com álcool e outras drogas, ou com atividades ilícitas
– Frustrações escolares; dificuldades de aprendizado na escola
– Tornar-se mãe
– Falta de interesse nos estudos
– Dificuldade de aprender em virtude da forma como os conteúdos são ensinados
– Reprovação e repetência, gerando estigma ou desmotivação no aluno

Nota-se que as causas do abandono escolar dizem respeito tanto a fatores intraescolares, quanto a fatores externos ligados à situação econômica, social, familiar ou territorial dos alunos. Esses dois conjuntos de causas precisam ser considerados para que a evasão escolar possa ser reduzida de forma consistente e sustentável.

No que se refere à estrutura das escolas, aspectos como a situação de refeitórios e banheiros, bibliotecas, salas de aula e quadras esportivas, bem como aspectos ligados à segurança, prevenção de incêndios, higiene e limpeza dos ambientes precisam ser considerados. O Censo Escolar 2022 apontou que quase 13 milhões de estudantes de escolas públicas estão matriculados em unidades com algum problema de infraestrutura, que cerca de um milhão estão matriculados em escolas sem acesso a água potável e que 390 mil estudam em escolas sem banheiros.

No que se refere ao funcionamento pedagógico das escolas, o estudo da Firjan/SESI sugere que o enfrentamento da evasão escolar deve envolver mudanças que inovem o processo de ensino-aprendizagem, tornando-o mais acolhedor, motivador e capaz de promover a recuperação da aprendizagem. Ao lado da questão pedagógica, o estudo aponta a necessidade de adoção de procedimentos de identificação de estudantes com alto risco de evasão.

Mais além das necessárias mudanças na estrutura e no funcionamento interno das escolas, uma articulação de ações entre diferentes políticas setoriais (assistência social, saúde, segurança pública, transporte, trabalho e outras) e entre instituições que integram o Sistema de Garantia dos Direitos de Crianças e Adolescentes em cada município será igualmente necessária para que o conjunto mais amplo de causas da evasão escolar possa ser enfrentado. Por exemplo, o estudo da Firjan/SESI sugere ações como: implementação de programas de busca ativa de alunos evadidos (que deve contar com a participação integrada das equipes escolares, do Conselho Tutelar, de serviços públicos assistenciais e de ONGs da rede local); pagamento de bolsas favoreçam o retorno à escola de alunos de baixa renda que se evadiram para poder trabalhar; ações que favoreçam a inclusão protegida de alunos no mundo do trabalho e que garantam sua permanência na escola (como previsto na legislação que regula o trabalho do adolescente aprendiz).

Acesse aqui: Educação brasileira em 2022: a voz de adolescentes – IPEC/UNICEF

Acesse aqui: Combate à evasão no Ensino Médio: desafios e oportunidades – FIRJAN/SESI, 2023