Envelhecimento, solidão e convivência nas cidades

Fabio Ribas
07/01/2018

Estudos apontam que a solidão, a depressão e a qualidade de vida são variáveis inter-relacionadas que determinam o nível de bem-estar das pessoas (em especial das pessoas idosas), e que a manutenção de vínculos e relações sociais ativas ajuda a reduzir os níveis de isolamento e depressão, e contribui para uma melhor qualidade de vida.

Recentemente o governo da Inglaterra atribuiu ao seu Ministério do Esporte e da Sociedade Civil a tarefa de planejar políticas públicas de apoio a pessoas que se sentem sozinhas. Pesquisas apontaram que cerca de 9 milhões de habitantes do Reino Unido frequentemente ou sempre se sentem solitários, que a maioria das pessoas com mais de 75 anos de idade vive sozinha e que cerca de 200 mil idosos não conversaram com um amigo no mês anterior ao que os levantamentos foram realizados. Ao tomar essa decisão, a primeira-ministra britânica convocou os habitantes de todo o país para que se envolvam em ações que ajudem a “enfrentar a solidão sofrida pelos idosos, pelos cuidadores, por aqueles que perderam amores – pessoas que não têm ninguém para conversar ou compartilhar seus pensamentos e experiências”.

A perda ou redução de contatos afetivos e sociais das pessoas idosas precisa ser enfrentada por um conjunto de iniciativas.

A criação e multiplicação de centros-dia para pessoas idosas, adequadamente estruturados, contribui para a redução dos níveis de solidão e depressão e para a ampliação dos vínculos de convivência social de pessoas idosas que possuem graus moderados de dependência física ou de perda cognitiva.

Outras instituições e associações que atendem ou congregam idosos (centros de convivência e fortalecimento de vínculos, organizações da sociedade civil que ofertam serviços sociais ou educacionais para idosos, associações de aposentados, projetos que estimulam o protagonismo social e a participação cidadã dos idosos) podem desempenhar papel igualmente importante, não apenas para a população idosa mas para toda a sociedade.

Porém, é essencial que a vida nas cidades, comunidades e bairros possa ser melhorada no sentido de promover a convivência respeitosa e afetiva entre pessoas de todas as idades. Aqui, o grande desafio é a superação das barreiras comunicativas entre as gerações e a ampliação dos vínculos de convivência democrática entre as pessoas.

O Guia Cidade Amiga do Idoso , elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), listou os principais eixos que determinam a capacidade das cidades para aumentar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem. Esses eixos foram definidos com base em consulta a grupos de pessoas idosas residentes em 33 cidades de todas as regiões do mundo. Nas consultas, a OMS pediu que os idosos apontassem as vantagens e as barreiras que encontram em diferentes aspectos da vida urbana.

Um dos eixos apontados refere-se aos mecanismos e oportunidades que as cidades dispõem para favorecer a participação social das pessoas idosas: participação em atividades de lazer, sociais, culturais e espirituais na comunidade, e também junto à família, que permitam aos idosos exercer a sua autonomia, gozar de respeito e estima, e manter ou formar relacionamentos de apoio e carinho.

Segundo o Guia Cidade Amiga do Idoso: “Os idosos relatam perceber comportamentos e atitudes conflitantes em relação a eles. Por um lado, muitos se sentem respeitados, reconhecidos e incluídos; por outro, experimentam uma falta de consideração da comunidade, e também de prestadores de serviços e da sua família. Esse embate se explica pela mudança pela qual a sociedade está passando, pelas normas de comportamento, pela falta de contato entre as gerações e pelo desconhecimento generalizado do processo de envelhecimento e do que é ser velho. Ficou claro pelo estudo realizado que o respeito e a inclusão social dos idosos dependem de outros fatores, além das mudanças sociais: cultura, gênero, condição de saúde e status econômico têm um papel importante na inserção social dos idosos”.

Em suma, a redução da solidão e a promoção da inclusão social são objetivos complementares, cuja concretização interessa aos cidadãos de todas as idades que valorizam o bem-estar da coletividade.