No século XX, houve um aumento de 30 anos na expectativa de vida da população mundial. Em entrevista ao programa 50+CBN, da rádio CBN, Alexandre Kalache – médico e doutor em saúde pública, diretor do programa de envelhecimento e saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde) entre 1995 e 2007 – afirma que o envelhecimento é o grande desafio do século XXI.
Hoje, quando uma pessoa completa 50 anos, ainda tem pela frente quase tantos anos quanto aqueles já vividos. Por isso, para o especialista, é preciso se preparar para vivenciar esses anos com qualidade. Ele destaca quatro importantes eixos nesse preparo: saúde, desenvolvimento de novas habilidades e conhecimentos, estabelecimento de uma boa rede social e uma atitude positiva com relação ao envelhecimento.
Saúde
De acordo com Kalache, apenas 20% dos fatores que determinam a forma como chegamos a uma idade avançada são genéticos. Em grande parte, ela depende de eventos e escolhas que fazemos durante a vida. “É muito mais fácil não começar a fumar do que depois de 10, 15, 20, 60 anos fumando, parar”, diz.
O médico ressalta que é preciso considerar a dimensão econômica que afeta essas escolhas. Muitas pessoas não têm meios, ou até mesmo conhecimento, para tomar as decisões mais adequadas.
Capacitação e educação continuada
O idoso deve sempre aprender novas habilidades para continuar sendo relevante para a sociedade. Segundo o especialista, é muito importante que as políticas sociais invistam em oportunidades. “Estamos pagando o preço dos governos anteriores que não investiram em educação”, diz.
Kalache defende também que é necessário reinventar o curso de vida, que continua o mesmo de quando as pessoas tinham uma expectativa de vida de 45 anos. No passado, o primeiro terço da vida era reservado à aprendizagem, um período mais longo era dedicado à produção e a aposentadoria durava um curto período. “Por isso Bismarck criou a aposentadoria e fixou 65 anos. Pouca gente, mesmo na Alemanha, chegava aos 65”, diz Kalache. “Fazia mais sentido economicamente”. Hoje, vivendo mais e com mais qualidade, os indivíduos podem ser produtivos por mais tempo. Alguns países, como Inglaterra e Estados Unidos, inclusive acabaram com a aposentadoria compulsória.
Rede social
As pessoas idosas precisam participar ativamente da sociedade, ter amigos, socializar e buscar contato com as gerações mais novas. “A oportunidade de trabalho te dá isso. A oportunidade de participar”, diz Kalache.
Atitude positiva
O quarto e último eixo diz respeito à forma como as pessoas encaram o envelhecimento. “Qualidade de vida já não é você correr ou competir e ser o campeão, mas ser capaz de cuidar de si próprio”, afirma Kalache.
Tendo isso em vista, o médico explica a diferença entre ter autonomia e ter independência. Uma pessoa idosa pode perder a independência porque, por exemplo, agora necessita de uma cadeira de rodas e, consequentemente, de alguém que a empurre. Ainda assim, ele pode manter a sua autonomia, ou seja, a capacidade de tomar suas próprias decisões. E, para que isso ocorra, é importante que ele tenha desenvolvido os três eixos anteriores.