Fabio Ribas | 17/03/2007
O brasileiro é empreendedor? O empreendedorismo é uma competência que pode ser desenvolvida?
Um dado divulgado com freqüência há alguns anos indicava que o percentual médio de empreendedores na população não ultrapassa 6%. O pressuposto implícito nessa afirmação era o de que o empreendedorismo não se ensina: algumas poucas pessoas teriam inclinação natural para empreender; ao restante da população restaria a alternativa do emprego.
Hoje, há uma clara tendência à mudança desse paradigma, movida não apenas pela necessidade premente de se buscar alternativas à crise do emprego, mas (o que é mais relevante) pela urgência de se construir novos modelos de desenvolvimento socioeconômico. Nessa perspectiva, trata-se de criar condições educacionais, econômicas e socioculturais para fomentar e fortalecer os pequenos empreendimentos, tornando-os importante componente em uma política de desenvolvimento integrado e sustentável.
O Global Entrepreneurship Monitor (GEM) publica, desde 1999, relatórios anuais sobre a situação do empreendedorismo, que são considerados fonte de referência sobre o tema em nível mundial. Os dados do Relatório/2004 foram coletados junto a 34 países. Os resultados do estudo são usados como um indicador de avaliação do avanço nesta área por inúmeras instituições e governos.
Os dados do Relatório 2004 respondem afirmativamente à questão levantada no início deste artigo. Segundo o GEM, o percentual de brasileiros empreendedores (13,5%) é maior que o de americanos (11,3%) e é 50% superior à média mundial.
Há, porém, uma diferença básica: em nosso país, a principal razão para empreender é a falta de oportunidades de trabalho assalariado e a necessidade de sobreviver. Quando empreende, a maioria dos brasileiros não está preparada para estruturar adequadamente, planejar, gerir e sustentar seu negócio. Além disso, enfrenta um ambiente hostil à sobrevivência e crescimento dos pequenos empreendimentos. O resultado: apesar da iniciativa e coragem do brasileiro, quase metade das pequenas empresas abertas no país fecha antes dos dois anos de existência.
O GEM aponta as seguintes dificuldades para o crescimento do empreendedorismo na América Latina:
– As instituições que deveriam apoiar a atividade empreendedora não são suficientemente organizadas.
– Faltam políticas públicas eficazes para o fomento ao empreendedorismo.
– Os pequenos empreendedores sofrem com tributos e custos trabalhistas excessivos. Os direitos de propriedade intelectual não são bem definidos.
– O acesso a capital é limitado.
– O acesso a tecnologias apropriadas e a mercados internacionais é dificultado.
– Os empreendedores têm grande necessidade de aprimoramento das habilidades gerenciais e de acesso a serviços de consultoria.
Em contrapartida a região conta, segundo o GEM, com as seguintes vantagens nesse campo:
– O avanço democrático em vários países abre espaço para uma mudança estrutural que priorize o papel dos pequenos empreendimentos no desenvolvimento econômico local.
– Este ambiente favorece uma ampliação da consciência dos governos quanto ao seu papel na criação de condições que favoreçam o crescimento econômico e social através do empreendedorismo: por exemplo, melhorias na infra-estrutura, comunicações e energia.
– Há condições para que as empresas maiores e mais estruturadas do setor privado também estimulem a atividade empreendedora, seja através de disseminação de conhecimento e tecnologias, capacitação de fornecedores, fomento à constituição de arranjos produtivos locais (práticas cooperativas entre empresas de uma mesma cadeia produtiva).
– A crise econômica que vem marcando a região nos últimos tempos abriu novos nichos de mercado. A demanda por produtos e serviços vem se dinamizando e os consumidores latino-americanos estariam receptivos a produtos inovadores.
Este cenário é relevante não apenas no debate econômico sobre o desenvolvimento do país, mas também no campo do investimento social. Há aqui uma oportunidade para que programas assistenciais e projetos sociais de governos, organizações do terceiro setor e empresas privadas se sintonizem mais claramente com o tema do empreendedorismo e geração de renda. Com isto, desterritorializa-se a questão social do campo estritamente assistencial e abre-se espaço para uma nova definição de desenvolvimento como um processo simultaneamente econômico e social.
A própria escola pública tem aqui uma oportunidade de associar o aprendizado de conteúdos e competências à ampla parcela da vida prática dos alunos que faz interface com o mundo do trabalho, buscando assim, desde o ensino fundamental, desenvolver uma educação básica para o empreendedorismo. O mais antigo projeto escolar nesta área é o Junior’s Achievement (iniciativa de origem americana, que busca estimular nos jovens a vocação para a atividade empresarial). Mas há iniciativas novas sendo experimentadas em parceria com diferentes instituições.