Educação integral e desenvolvimento ético de crianças e adolescentes

Fabio Ribas
31/05/2018

Seminário realizado pela Unicamp no início de 2018 revisitou a trajetória da política de educação integral no Brasil nos anos 2000 e mobilizou discussões entre pesquisadores nacionais e internacionais que focalizam essa temática.

No livro “Educação Integral no Brasil – Inovações em Processo”, Moacir Gadotti descreve as várias dimensões do conceito de educação integral, mostrando que esse conceito não deve ser compreendido apenas como uma simples expansão do tempo escolar – a chamada educação em tempo integral.

Para Gadotti, educação integral pressupõe a existência de uma escola “integral, integrada e integradora”, que atue em articulação com outras instituições e políticas setoriais, e que consiga incorporar ao processo educativo as oportunidades que os bairros, comunidades e cidades podem oferecer para o desenvolvimento humano.

Entre as dimensões básicas do conceito de educação integral está o compromisso com desenvolvimento de valores éticos nas crianças e adolescentes – um objetivo que transcende a esfera do desenvolvimento cognitivo para abarcar a capacidade de convivência respeitosa e solidária na vida social, assentada nos conceitos de justiça e democracia.

A educação integral orientada por esse objetivo deve valorizar processos de convivência que favoreçam a construção de valores morais. Esse foi o foco do estudo intitulado “A educação integral e os possíveis espaços de construção de valores morais”, apresentado no seminário realizado na Unicamp.

O estudo citado avaliou a influência de diferentes modos de funcionamento de escolas sobre o desenvolvimento moral dos alunos. Esses modos de funcionamento envolvem a forma pela qual as conversas entre os agentes escolares e os alunos são desenvolvidas, as regras de interação que são estabelecidas, as formas como situações conflituosas são resolvidas, os tipos de punição ou de premiação aplicados, o modo como o poder da autoridade é exercido. Em suma, a conduta moral que as escolas desenvolvem em seus alunos decorre basicamente do modelo de convivência nelas praticado.

Segundo o estudo, uma educação integral que valorize a convivência democrática deve ser capaz de promover a construção de valores nos alunos como o respeito às diferenças, a solidariedade e a justiça. O eixo central desse processo é o desenvolvimento da autonomia moral, entendida como internalização de valores éticos a partir da autorreflexão dos próprios alunos sobre questões éticas e não como heteronomia moral, ou seja, obediência a valores que se impõem como obrigatórios apenas em face do poder de uma autoridade externa.

Neste momento em que formas variadas de violência na vida cotidiana e de corrupção na vida pública se explicitam, mais do que nunca, como desafios para o desenvolvimento do país, afetando até mesmo a vida no interior das escolas, torna-se decisivo que o conceito de uma educação integral orientada para o desenvolvimento ético de crianças e adolescentes se torne um dos principais eixos orientadores da busca da melhoria da qualidade do ensino brasileiro.

Acesse aqui: Resumos dos textos apresentados no seminário “A política de educação integral no Brasil: tensões e possibilidades”, realizado pela Faculdade de Educação da UNICAMP entre 30/01 e 02/02/2018.

Acesse aqui: A educação integral e os possíveis espaços de construção de valores morais, de Alana Paula de Oliveira, Maria Suzana Stefano Menin e Renata Portela Rinaldi.

Acesse aqui: matéria sobre “Projetos bem-sucedidos de educação em valores”

Acesse aqui: matéria sobre As escolas e a formação das crianças e jovens para a democracia