É preciso ensinar a usar drogas, defende neurocientista

Carl Hart passou a infância presenciando as violentas brigas entre os pais; certa vez, sua mãe foi levada ao hospital após ser agredida com um martelo. Nessas ocasiões, o pai havia bebido muito. O álcool foi a causa dessas agressões? Para Hart, a resposta é não. “Fatores simples como bebida e drogas poucas vezes contam a história toda”, escreve em seu livro “Um Preço Muito Alto” (ed. Zahar).

Hart passou a infância num bairro pobre de Miami. Logo envolveu-se com drogas, não só como usuário, mas também como traficante. Hoje, é neurocientista, professor de Psicologia e Psiquiatria da Universidade Columbia. No livro, Hart utiliza sua história pessoal e pesquisas científicas para debater uma série de ideias disseminadas com respeito ao uso de drogas.

Para ele, o uso regular de drogas não significa necessariamente vício. Segundo Hart, pesquisas apontam que apenas entre 10 e 25% das pessoas que experimentam drogas, mesmo as mais pesadas, como crack e heroína, desenvolvem dependência. Isso significa que mais de 75% das pessoas não precisam de doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito e não têm crise de abstinência com a suspensão do uso.

A partir de dados como esse, Hart questiona os motivos pelos quais é tão negativa a visão que temos dos usuários de drogas. Ele afirma que é possível usar drogas e ser produtivo e defende a descriminalização de todo tipo de entorpecentes, sem exceção.

Em entrevista ao Jornal Folha de S. Paulo, Hart fala sobre a necessidade de se ensinar a usar drogas: “Coisas práticas, como dosagem. Quando há aumento de dose, aumenta-se o risco. Também precisam aprender que há organismos mais tolerantes. É necessário ensinar onde, como e com quem usar”, diz.

 

Livro Um Preço Muito Alto
autor: Carl Hart
Editora: Zahar