A metamorfose do trabalho na era da globalização
| 27.5.2004
João Clemente de Souza Neto*
O livro “A metamorfose do trabalho na era da globalização” aborda, no primeiro capítulo, os impactos da tecnologia sobre a divisão do trabalho social. Situa a questão do trabalho, com base numa releitura dos clássicos da Sociologia e da Administração, estuda a inter-relação entre a mudança do trabalho e dos paradigmas, mostra como a sociedade capitalista, estruturada na força do trabalho, teria perdido seu eixo à medida que se reduziram os postos de trabalho. Esse conjunto de mudanças dificulta a elaboração de um quadro conceitual que possa apreender as diferentes facetas que delineiam a categoria trabalho e a crise da sociedade moderna. O segundo capítulo estabelece uma reflexão sobre a crise dos paradigmas e a questão do trabalho, no contexto da mutação da rigidez à flexibilidade, no qual o trabalhador necessita de um perfil de polivalência, para atender às solicitações do mercado. O terceiro capítulo estuda as estratégias dos trabalhadores e dos munícipes para responderem aos desafios da globalização em sua cidade, onde esse movimento ganha fisionomia própria.
Além de contribuir para a explicitação dos fenômenos sociais, este livro busca evidenciar as potencialidades presentes nas políticas sociais municipalizadas, como oportunidades para o trabalhador, que deve manter o alento e a esperança, numa sociedade achatada pelos desafios do desemprego, da violência e de outras mazelas geradas pela dinâmica da globalização. A municipalização das políticas sociais vem aumentar as expectativas de que o Brasil transforme sua tradicional cultura de favores e de autoritarismo numa cultura de direitos.
A flexibilidade decorrente da significativa mudança que rompeu com a rigidez tradicional da divisão social do trabalho ampliou a liberdade pessoal, mas, em contrapartida, aumentou a opressão do trabalhador. Entre os diferentes efeitos da globalização na cidade, o que se verifica, neste momento, é que o desemprego e o sucateamento das coisas públicas são mais uma face da desigualdade social, como o são, igualmente, as diferenças entre um profissional qualificado e um desqualificado. Daí a importância de se buscarem formas de ajudar a reverter ou mudar a fisionomia do impacto da desigualdade social sobre os trabalhadores e suas famílias.
As políticas sociais municipalizadas abrem ao trabalhador margens de manobra dentro do processo globalizante. Oferecem brechas de emancipação que, mesmo pequenas, podem ajudar a recompor as estratégias de sobrevivência e a reverter a situação social. No município, elas são instrumentos para a construção de um tecido social condizente com uma sociedade globalizada. A gestão municipal das políticas públicas, quando circunscrita no âmago das lutas contra a desigualdade política e social, desde que assuma como uma de suas metas prioritárias o desenvolvimento humano e econômico, e polarize seus projetos e programas no ser humano e nos interesses coletivos e das maiorias, pode ajudar a melhorar a qualidade de vida da comunidade.
Apesar de certos limites, mesmo que ainda não açambarque a totalidade das transformações de que a sociedade necessita, a municipalização pode ser uma experiência significativa em direção à conquista da igualdade social. Destes princípios, podemos inferir o quanto é importante a participação da comunidade no desenvolvimento local, principalmente na construção de uma ética social que contribua significativamente na mudança de uma cultura de favores para uma cultura de direitos. Quando há compromisso dos gestores das políticas públicas no âmbito local, se não é possível mudar radicalmente a realidade, pelo menos permanece a possibilidade de se fazerem reformas que melhorem significativamente a vida da população empobrecida. A participação e a municipalização das políticas públicas são avanços no processo de reconstrução da vida do trabalhador.
Referência bibliográfica: João Clemente de Souza Neto e Márcia Mello Costa De Liberal. A metamorfose do trabalho na era da globalização. São Paulo: Expressão e Arte Editora, 2004, 135 páginas.
* João Clemente de Souza Neto é mestre e doutor em Ciências Sociais, pela PUC-SP, pós-doutorando em Sociologia Clínica, professor e pesquisador no Centro Universitário FIEO e na Universidade Presbiteriana Mackenzie, membro do IFIP (Instituto FIEO de Pesquisa), do NESCCi (Núcleo de Estudos de Subjetividade, Cultura e Cidadania da PUC-SP) e do ICSSJ (Instituto Catequético Secular São José), presidente da AGES (Associação Civil Gaudium et Spes), coordenador da Pastoral do Menor na Região Episcopal Lapa e consultor da Prattein.
João Clemente de Souza Neto | 27/05/2004
O livro “A metamorfose do trabalho na era da globalização” aborda, no primeiro capítulo, os impactos da tecnologia sobre a divisão do trabalho social. Situa a questão do trabalho, com base numa releitura dos clássicos da Sociologia e da Administração, estuda a inter-relação entre a mudança do trabalho e dos paradigmas, mostra como a sociedade capitalista, estruturada na força do trabalho, teria perdido seu eixo à medida que se reduziram os postos de trabalho. Esse conjunto de mudanças dificulta a elaboração de um quadro conceitual que possa apreender as diferentes facetas que delineiam a categoria trabalho e a crise da sociedade moderna. O segundo capítulo estabelece uma reflexão sobre a crise dos paradigmas e a questão do trabalho, no contexto da mutação da rigidez à flexibilidade, no qual o trabalhador necessita de um perfil de polivalência, para atender às solicitações do mercado. O terceiro capítulo estuda as estratégias dos trabalhadores e dos munícipes para responderem aos desafios da globalização em sua cidade, onde esse movimento ganha fisionomia própria.
Além de contribuir para a explicitação dos fenômenos sociais, este livro busca evidenciar as potencialidades presentes nas políticas sociais municipalizadas, como oportunidades para o trabalhador, que deve manter o alento e a esperança, numa sociedade achatada pelos desafios do desemprego, da violência e de outras mazelas geradas pela dinâmica da globalização. A municipalização das políticas sociais vem aumentar as expectativas de que o Brasil transforme sua tradicional cultura de favores e de autoritarismo numa cultura de direitos.
A flexibilidade decorrente da significativa mudança que rompeu com a rigidez tradicional da divisão social do trabalho ampliou a liberdade pessoal, mas, em contrapartida, aumentou a opressão do trabalhador. Entre os diferentes efeitos da globalização na cidade, o que se verifica, neste momento, é que o desemprego e o sucateamento das coisas públicas são mais uma face da desigualdade social, como o são, igualmente, as diferenças entre um profissional qualificado e um desqualificado. Daí a importância de se buscarem formas de ajudar a reverter ou mudar a fisionomia do impacto da desigualdade social sobre os trabalhadores e suas famílias.
As políticas sociais municipalizadas abrem ao trabalhador margens de manobra dentro do processo globalizante. Oferecem brechas de emancipação que, mesmo pequenas, podem ajudar a recompor as estratégias de sobrevivência e a reverter a situação social. No município, elas são instrumentos para a construção de um tecido social condizente com uma sociedade globalizada. A gestão municipal das políticas públicas, quando circunscrita no âmago das lutas contra a desigualdade política e social, desde que assuma como uma de suas metas prioritárias o desenvolvimento humano e econômico, e polarize seus projetos e programas no ser humano e nos interesses coletivos e das maiorias, pode ajudar a melhorar a qualidade de vida da comunidade.
Apesar de certos limites, mesmo que ainda não açambarque a totalidade das transformações de que a sociedade necessita, a municipalização pode ser uma experiência significativa em direção à conquista da igualdade social. Destes princípios, podemos inferir o quanto é importante a participação da comunidade no desenvolvimento local, principalmente na construção de uma ética social que contribua significativamente na mudança de uma cultura de favores para uma cultura de direitos. Quando há compromisso dos gestores das políticas públicas no âmbito local, se não é possível mudar radicalmente a realidade, pelo menos permanece a possibilidade de se fazerem reformas que melhorem significativamente a vida da população empobrecida. A participação e a municipalização das políticas públicas são avanços no processo de reconstrução da vida do trabalhador.
Referência bibliográfica: João Clemente de Souza Neto e Márcia Mello Costa De Liberal. A metamorfose do trabalho na era da globalização. São Paulo: Expressão e Arte Editora, 2004, 135 páginas.
* João Clemente de Souza Neto é mestre e doutor em Ciências Sociais, pela PUC-SP, pós-doutorando em Sociologia Clínica, professor e pesquisador no Centro Universitário FIEO e na Universidade Presbiteriana Mackenzie, membro do IFIP (Instituto FIEO de Pesquisa), do NESCCi (Núcleo de Estudos de Subjetividade, Cultura e Cidadania da PUC-SP) e do ICSSJ (Instituto Catequético Secular São José), presidente da AGES (Associação Civil Gaudium et Spes), coordenador da Pastoral do Menor na Região Episcopal Lapa e consultor da Prattein.