Ana Maria Martins de Souza (*)
“Na área educacional, nos últimos tempos, algumas expressões têm sido freqüentemente usadas: ‘aprender a pensar’, ‘aprender a aprender’, ‘formar para competências’ e ‘inclusão’”.
Com esse parágrafo, inicia-se o livro A Mediação como princípio educacional – bases teóricas de Reuven Feuerstein, cujo objetivo primeiro é trabalhar o conceito de “mediação”, outra palavra muito usada atualmente (tão estereotipada, quanto as que estão no parágrafo que iniciou este texto).
O livro coloca em evidência as bases teóricas das abordagens do Professor Reuven Feuerstein, psicólogo romeno, radicado em Israel desde os 17 anos de idade. Feuerstein desenvolveu um programa conhecido como PEI – Programa de Enriquecimento Instrumental, que se propõe desenvolver nas pessoas (de qualquer idade e nível sócio-econômico) o pensar organizado que favorece a aquisição de competências cognitivas do pensar, conhecer, fazer, saber ser e estar no mundo. Um dos capítulos do livro descreve esse programa.
Essas competências são desenvolvidas, na teoria de Feuerstein, por meio da mediação dos processos de aprendizagem. A diferença com relação a outras abordagens é que, em Feuerstein, a presença do mediador humano é imprescindível nas relações educacionais, quaisquer que elas sejam.
O mediador é um agente de mudanças. O professor-mediador é o agente que possibilita ao educando um olhar renovado diante do conhecimento – neste sentido, o educando que se percebe tendo esse olhar, torna-se, ele também, agente criador de outros conhecimentos. Essa relação é de reciprocidade. Ambos, educador e educando, constroem significados para seu cotidiano que farão parte de sua história, de seu aprendizado, da construção de suas relações.
Essa relação entre educador e educando também é encontrada em outros processos de aprendizagem, não se restringindo a situações comuns de sala de aula. Feuerstein amplia a atuação do mediador em sua teoria. Para ele há algumas categorias que não prescindem das relações de mediação, como ele a concebe: pai/mãe e filho(a); chefe/gerente e funcionários; tutor e tutoriado; pessoa adulta e alguém sob sua responsabilidade. Enfim, qualquer relação humana comporta a mediação. Em Feuerstein, a mediação é intencional, organizada, tendo como princípio o respeito ao outro, à sua individualidade, ao ser diferente em que ele se constitui. Colocar-se no lugar desse “outro”, entendendo o seu espaço e o seu tempo de aprendizagem, não é tarefa fácil.
O livro contém sete capítulos, quatro deles explicitando as bases da teoria de Feuerstein. Os outros capítulos focalizam Piaget e Vygotsky – autores nos quais Feuerstein buscou os principais conceitos de sua teoria, desenvolvendo-os e renovando-os em sua abordagem – e também Paulo Freire, cuja perspectiva humanista é a mesma que se percebe em Reuven Feuerstein.
O livro “A mediação como princípio educacional – bases teóricas de Reuven Feuerstein” é leitura para todos: pais, mães, educadores, gestores, profissionais liberais, estudantes, professores de qualquer área, o leigo que busca compreender um pouco mais os processos de aprendizagem.
Referência bibliográfica: Ana Maria Martins de Souza, Léa Depresbiteris e Osny Telles Marcondes Machado. A Mediação como princípio educacional – bases teóricas de Reuven Feuerstein. São Paulo, Editora Senac São Paulo, 2004.
(*) Ana Maria Martins de Souza é pedagoga; pós-graduada em Administração de Recursos Humanos pela Fundação Armando Álvares Penteado; trainer e mediadora certificada no Programa de Enriquecimento Instrumental do Dr. Reuven Feuerstein pelo ICELP – International Center for the Enhancement of Learning Potential, Israel.